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  • Foto do escritorDr Aidê Fernandes

Melhor que eles que continuem sendo cães



Há 10 anos, em pesquisa realizada pelo IBOPE-NPD, descobriu-se que 71% das residências tinham um cão e 17,5 % seu gato, ou seja, eram 22.276 milhões de cães e 9.011 milhões de gatos. Portanto, havia mais de 31 milhões de bichos convivendo em sua “matilha” ou “gataria” humana. Cá entre nós, não é nenhum exagero considerar que estes números aumentaram e os animais continuam fazendo parte das famílias, ocupando um lugar especial no funcionamento desse grupo que os adota como integrante. Até mesmo na economia é possível perceber as consequências desse fenômeno; desde 1995 o setor de pet shop cresce em média 17 % ao ano. Obviamente que numa sociedade impulsionada pelo consumismo, haveria de ter na sua dinâmica econômica os reflexos dessa relação entre homens e seu animal de estimação. Por outro lado, não são somente os efeitos econômicos (ou de consumo) que chamam a atenção nesse tema. Há que se refletir sobre algumas das consequências desse vínculo cada vez mais presente e potencializado.

Num mundo globalizado, onde a internet possibilita a convivência (em tempo real) com inúmeras de pessoas, seja trocando informações, impressões culturais, opiniões, fotos e fatos do cotidiano, hoje em dia é bastante comum, paradoxalmente falando, a existência de gente solitária (em meio a essa multidão virtual) fechada em seu próprio universo e focada nas telinhas (de TV ou computador). Nesse caso, as principais trocas emocionais são feitas com seu animalzinho em animadas conversas “entre espécies”. Essa pessoa, de uma “janela virtual”, assiste aos descaminhos da humanidade reclamando de sua estupidez, e, ao mesmo tempo valoriza o afeto incondicional dado pelo cãozinho, por exemplo. E assim conduz o seu dia criticando os homens e suas atitudes animalescas, desiludida e amargurada pela fraqueza humana, retirando seu amor da humanidade e o depositando sobre cães e/ou gatos. Há um erro grave aqui estabelecido e uma consequente perversão social. É fato que os animais de estimação são excelentes antídotos para os males da solidão, e os estudos científicos, ao longo desses anos,já demonstraram os inúmeros benefícios que podem trazer para a saúde mental dessas pessoas, principalmente os idosos. Mas, saliente-se que esta relação não pode ser uma substituta da necessária troca afetiva entre duas pessoas, pois as vivências cotidianas se fazem humanas somente entre dois seres humanos. Além disso, cria-se a possibilidade da humanização dos “bichinhos” conduzindo para a animalização dos seres humano, trazendo riscos para a integridade física de ambos.

Ou seja, como todo fenômeno cultural inventado, é preciso cuidado e prudência com sua configuração e possibilidades. Vejamos, apesar dos benefícios, para nossa saúde mental, dessa interação “homem-animal de estimação”, a saber:

1. Os idosos são cada vez mais desejosos da companhia destes que funciona como uma terapia onde podem cuidar e trocar afeto aliviando a solidão;

2. As pessoas residentes em casas se sentem mais seguras com um cão por perto, sendo que o animal ajuda a preencher o tempo dando e recebendo atenção;

3. Pais, especialmente jovens, que tem crianças valorizam cada vez mais a presença dos animais potencializando o amadurecimento dos pequenos e tornando a infância sempre mais prazerosa (inclusive com a aprovação dos educadores);

4. Um animal pode contribuir para a reconstrução de um ambiente mais relaxado e acolhedor. Mesmo assim, torna-se indispensável à necessidade do respeito às limitações e singularidades do animal, sem atropelar sua evolução enquanto espécie. Somente assim será possível que esta interação mantenha-se saudável para si mesmo, e também para o animal.

Apesar disto, ao longo dos milhares de anos de construção deste vínculo, descobrimos que os cães, instintivamente, parecem ser muitas vezes, mais humanos do que os seres humanos, repetindo alguns dos nossos melhores comportamentos possiveis: eles não mentem, não enganam, manifestam uma lealdade total e um amor incondicional ao dono.

Talvez porque, até hoje, ainda sejam cães. Melhor que eles continuem assim, e nós continuemos buscando a nossa humanidade.

Referência:

S. O. S ANIMAL. “Relação homem X animal - aspectos psicológicos e comportamentais”. Disponível em http://www.sosanimal.com.br/informativo/exibir/?id=89#, acessado em 20 de agosto de 2017.

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